Domingo, 31 de Janeiro de 2010
Podes guardar o pão
para muitos dias,ainda que o excesso de tua casa
signifique ausência do essencial
entre os próprios vizinhos;
Todavia, quanto puderes,
alonga a migalha de alimento
aos que fitam debalde
o fogão sem lume.
Podes conservar armários
repletos de veste inútil,
ainda que a traça
concorra contigo à posse
do pano devido
aos que se cobrem
de andrajos;
No entanto, sempre que possas,
cede a migalha de roupa
ao companheiro que sente frio.
Podes trazer bolsa farta,
ainda que o dinheiro supérfluo
te imponha problemas e inquietações;
Contudo, quanto puderes,
oferece a migalha de recurso
aos irmãos em necessidade.
Podes trazer bolsa farta,
ainda que o dinheiro supérfluo
te imponha problemas e inquietações;
Contudo,
quanto puderes, oferece a migalha de recurso aos irmãos em necessidade.
Podes alinhar perfumes e adornos
para uso à vontade, ainda que pagues caro
a hora do abuso;
Mas, sempre que possas,
estende a migalha de remédio
aos doentes em abandono.
Um dia,
que será certo em tua vida,
deixarás pratos cheios
e móveis abarrotados,
cofres e enfeites,
para a travessia
do novo caminho...
... Entretanto,
não caminharás perdido
na noite sem estrelas
porque as migalhas de amor
que tiveres distribuído
estarão multiplicadas
como bênçãos
e tochas de luz
em tuas mãos.
Domingo, 10 de Janeiro de 2010
Se puderes conservar a tua calma quando todos em torno de ti desnortearem e por isso te culparem,
Se puderes confiar em ti mesmo, quando todos os homens de ti duvidarem, mas também tolerar a dúvida deles.
Se puderes esperar, sem por isso te fatigares, ser caluniado, sem teres intrigas, ser odiado sem responderes ao ódio, e mesmo assim não exaltares a tua bondade e nem falares com excessiva sabedoria.
Se puderes sonhar sem te deixares vencer pelos teus sonhos.
Se puderes pensar sem resumires no pensamento o teu único objectivo.
Se puderes aceitar o triunfo e o fracasso, sem as distinções que os separam.
Se puderes ouvir a verdade que disseste, deturpada pela má fé, para assim iludir aos parvos, ou contemplar, desfeitas as coisas a que devotastes a tua vida reunindo-as e reconstruindo-as com recursos gastos;
Se puderes juntar tudo quanto ganhaste e tudo arriscar num golpe de aposta, perder e recomeçar novamente do início sem nunca murmurares uma palavra sobre o teu prejuízo.
Se puderes estimular o teu coração, nervos e músculos a te servirem mesmo depois que eles se tiverem esgotado e assim resistir quando nada mais sobrar da tua energia, excepto a vontade que exclama: “ Resiste!”.
Se puderes falar com as multidões e manter as tuas virtudes, frequentar os reis sem perderes a tua simplicidade.
Se nem os inimigos nem os devotados amigos puderem ferir-te.
Se confiares em todos os homens, mas em nenhum cegamente.
Se puderes preencher o inexorável minuto da tua vida com os sessenta segundos que representam o seu valor passado – o mundo será teu e tudo o que ele contém, e, o que é mais ainda, serás um homem meu filho!
Rudyard Kipling