Apareceu num programa de televisão, onde eram entrevistadas pessoas idosas, convidadas a falar sobre a velhice. Tinha setenta e cinco anos, mas aparentava sessenta, espirituoso, bem disposto, dono de uma incrível jovialidade.
- Nunca me senti velho. O corpo já não tem a mesma vitalidade; não raro há "grilos" de saúde, o que é natural. Trata-se de uma máquina. Embora eu cuide bem dela, vai se desgastando... Mas o "motor" está óptimo, nos dois sentidos: bombeia, incansável e eficientemente o sangue, sem "ratear", e se mantém permanentemente enamorado de encantadora donzela - a Vida ! Por isso, intimamente, sinto-me um eterno jovem. Nunca experimentei o "peso dos anos" ou a angústia de envelhecer. Cada dia é uma nova aventura e eu aproveito integralmente...
– Qual é a fórmula para essa perene juventude emocional, essa esfuziante alegria? - Pergunta, admirado, o entrevistador.
- Elementar, meu filho. Toda manhã, quando eu desperto, digo para mim mesmo: "Você tem duas opções, neste dia: ser feliz ou infeliz." Como eu não sou tolo, escolho a primeira. Simples, não?
As pessoas felizes vivem neste mesmo mundo de expiações e provas. Sofrem, lutam, enfrentam problemas e dificuldades, dores e atribulações, enfermidades e desgastes, como toda gente. No entanto, optaram pela Felicidade, superando a velha tendência humana de auto comiseração; o masoquismo de autoflagelar-se com uma visão pessimista e desajustada da existência, o cultivo voluptuoso da mágoa...
Felicidade, como ensina a sabedoria popular, não é uma estação na jornada humana. Trata-se de uma maneira de viajar. Independente dos favores da existência, subordina-se, fundamentalmente, ao que fazemos dela.
(Richard Simonetti "Atravessando a rua")
“Falar em perdas é falar em solidão, tristeza, desesperança, medo.”
Quando digo perdas, não estou me referindo apenas aos que morrem, mas a todos que, de alguma forma, nos deixam prematuramente, antes que estejamos preparados.
Um amigo que se muda para longe, um namoro interrompido abruptamente e até mesmo um ente querido que se vai, sempre provoca em nós uma sensação de vazio.
E por que isso? Porque sofremos tanto mesmo sabendo que estas perdas ou partidas inesperadas são inerentes à vida e que, portanto, não podemos controlá-las?
Não saberia responder com precisão ás perguntas acima, mas, o que me parece mais coerente é que nunca estaremos prontos para nos acostumarmos com a falta dos que amamos. Por mais que saibamos que a qualquer instante eles nos faltarão, temos sempre a predisposição em acreditarmos que quem nos ama nunca nos trairia, nos privando de seu afecto, carinho e amor.
Ledo engano.
São justamente aqueles que amamos que mais nos magoam com suas partidas inesperadas.
Vão-se sem aviso prévio e nos levam a felicidade, a fé na vida, o equilíbrio.
O que fazer então? Não amarmos? Não nos permitirmos gostar de alguém pelo simples facto de que seremos, mais cedo ou mais tarde, deixados para trás na vida, entregues às nossas angústias e remorsos por não termos dito tudo ou feito o suficiente por eles?
Creio que não.
Se há algo na vida que mais nos trás felicidade é sabermos que somos queridos e não seria honesto nos privarmos de tal sentimento por cobardia.
Um amor de pai e mãe, o carinho de um amigo ou afecto de uma relação a dois deve sempre se sobrepujar ao medo da perda.
Porque ela é inevitável; o sentimento, não. Deve ser exercitado todos os dias de nossas breves vidas.
Ele é o que nos move, nos dá o chão para que possamos caminhar pela vida com a certeza de que, haja o que houver, teremos sempre alguém com quem contar, que nos apoiará mesmo nos momentos em que não tenhamos razão.
Esta deve ser a maior lição deixada pelos que partem sem nos avisar. Lembrar-nos que devemos sempre curtir aqueles que amamos com a intensidade proporcional à brevidade de uma vida.
Porque, quando nos faltarem, saberemos que amamos e fomos amados, que demos e recebemos todo o carinho esperado, que construímos um sentimento que nenhuma perda poderá apagar. Este sentimento transcende o espaço e o tempo, não se limita ao contacto físico.
Torna-se parte de nós, impregnado em nossa alma, nos confortando nos dias difíceis, sendo cúmplice de nossas vitórias pessoais, norteando nossa conduta, nos fazendo sentir eternamente amados.
Que me perdoem os físicos, mas, neste caso, acredito sim que dois corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço.
Basta que permitamos sentir a presença dos que amamos dentro de nós, como se fossem parte de nossa alma. Só assim seremos inteiros.
“Aqueles que amamos nunca morrem,
apenas partem antes de nós".
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